sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Grupo de Pastoril "Bom Jesus dos Pobres"


PASTORIL

A origem do Pastoril está também vinculada àquele teatro religioso semipopular ibérico, já que tanto na Espanha quanto em Portugal, as datas católicas se transformaram em festas eclesiásticas e ao mesmo tempo em festa popular.
Segundo diversos autores, desde tempos muito antigos até o final do século XVI, são representadas peças de um ato relativas ao Natal, Reis, Páscoa, etc., numa mistura de elementos pastorais e alegóricos, de bailados, textos e canções. Esse teatro popular se afirmou em Portugal com os vilhancicos galego-portugueses, fonte primeira dos nossos pastoris. Os vilhancicos eram cantigas a solo e refrão coral, cantadas por populares encarnando pastores, nas representações da Natividade.

O Pastoril, mesmo em suas origens, nunca foi inteiramente popular mas burguês e sua justificativa se dá com os Presépios, pois, sistematicamente, os pastoris eram dançados em frente da lapinha, representação estática do nascimento do menino Jesus.
Com poucas diferenças, os estudiosos afirmam que as comemorações do Natal, a festa da Natividade, surgiram no início do século X. Conforme comprovam as pesquisas de Mário de Andrade , "a idéia de comemorar o nascimento do Cristo, através de representações dramáticas, foi do monge Tuotilo, morto em abril de 915, na Abadia de São Galo, centro germânico onde nasceram, ou donde pelo menos se espalharam com maior autoridade as Seqüências e os Tropos". O Tropo consistia em intercalar textos novos e frases melódicas novas, em textos religiosos oficiais da Igreja, cantados em gregoriano. 


PASTORIL 
Logo, tanto na França como na Inglaterra, os tropos dialogados do natal se desenvolveram rapidamente, transformando-se em núcleos do drama litúrgico medieval. Dividiam-se em três partes principais: A anunciação do nascimento do Cristo aos pastores; a adoração dos três reis magos; o massacre dos inocentes. Os dois primeiros temas se conservaram vivos e se desenvolveram com rapidez por todo o ocidente europeu e Portugal, através dos jesuítas, que assim repassaram Brasil Colônia.

PRESÉPIO 

Quanto ao Presépio, diante do qual tradicionalmente eram dançados os pastoris, segundo alguns estudiosos, surgiu somente no século XIII, com o movimento religioso de Úmbria. A invenção do presepe ou presépio é atribuída a São Francisco de Assis. Por volta de 1510, o tema passou a figurar nos autos hieráticos, como o de Sybilla Cassandra, de Gil Vicente, em citação de Pereira da Costa. Já em Portugal, a representação de auto pastoril ou presépio se afirmou somente no final do século XVIII, como descreve Mário de Andrade, citando Pedro Fernandes Tomás: "Os Auto Pastorisou o Presepe como eram conhecidas entre o povo estas composições teatrais que se exibiam em muitas localidades do país durante as festas do Natal, Ano Bom e Reis, constituíram uma série de pequenos autos e entremeses, representados na maioria dos casos em palcos improvisados, cujo cenário se revestia da maior simplicidade, formado quase sempre por grandes ramos de árvores (pinheiro, loureiro, etc.) colocados ao longo das paredes do palco. Ao fundo da cena via-se a gruta ou lapinha tradicional com as figuras da Virgem tendo no regaço o divino infante, S. José completando o grupo. Via-se também a mangedoura e os animais simbólicos- a vaca e a mula, e a burrinha em que a Virgem havia feito a viagem de Nazaré a Belém. Uma cortina cobria a gruta ou Presepe, e todas as ingênuas cenas dos autos e entremeses terminavam por se descerrar a cortina, e os personagens caírem de joelhos adorando o Menino... As farsas mais em voga que entremeavam os Autos Pastoris eram as do Cego e Moço, o Frade e a Beata, a Lambisqueira, etc. Uma espécie de prólogo em que entravam a Noite, a Lua, o Sol, a Atenção e outras entidades simbólicas, precedia a representação. No Auto dos Reis Magos também aparecia Herodes, rei da Judéia, que ordenava o extermínio dos Inocentes, indiferente às súplicas da desolada Raquel... Estas composições parecem datar do século XVIII, e conservam-se na sua grande parte manuscritas". 

No Brasil e mais precisamente em Pernambuco, segundo Pereira da Costa, o aparecimento do presépio vem, talvez, dos fins do século XVI, no Convento dos Franciscanos em Olinda, por iniciativa de Frei Gaspar de Santo Antônio, primeiro religioso a receber hábito no Brasil. Já Fernão Cardim, o Jesuíta, nos dá uma indicação em que talvez possamos detectar as origens do Pastoril brasileiro, por conta de uma representação em 1584, no dia 5 de janeiro ou no dia dos Reis, como consta num documento, também citado por Mário de Andrade em Danças Dramáticas do Brasil - 1ºTomo: "Debaixo da ramada se representou pelos índios um diálogo pastoril, em língua brasílica, portuguesa e castelhana, e têm eles muita graça em falar línguas peregrinas, maximé a castelhana. Houve boa música de vozes, flauta, danças, e dali em procissão fomos até a igreja com várias invenções".Boa-noite, meus senhores todos
Boa-noite, senhoras também;
Somos pastoras
Pastorinhas belas
Que alegremente
Vamos a Belém.

Sou a Mestra
Do Cordão encarnado
O meu cordão
Eu sei dominar
Eu peço palmas
Peço riso e flores
Ao partidário
Eu peço proteção.

Sou a contramestra
Do cordão azul
O meu partido
Eu sei dominar

Com minhas danças
Minhas cantorias
Senhores todos
Queiram desculpar 


A Diana, enquanto mediadora, cantava: 

Sou a Diana, não tenho partido
O meu partido são os dois cordões,
Eu peço palmas, fitas e flores
Ó meus senhores, sua proteção.
 

É importante salientar que as canções dançadas sucediam-se uma após a outra, sem qualquer diálogo ou texto de ligação entre eles, a não ser quando o velho do pastoril interferia com suas improvisações para estimular o público e receber gorjetas para lançar, com deboche, suas irreverências. 

Como espetáculo popular, o pastoril perdeu muito de sua popularidade, e hoje encontramos poucos grupos que ainda animam os bairros nos tablados armados na praça, ou como dizem: "não há mais pastoril de ponta-de-rua", com sua alegria irreverente. E naturalmente, perdeu sua função social. E perdemos verdadeiros atores mambembes, sendo justo lembrar os grandes velhos de pastoris, tais como: Amaro Canela de Aço, Catota, Galo Velho, Cebola, Baú, Velho Barroso, Futrica e o Faceta.
Mas, ainda que os fenômenos econômicos e sociais tenham interferido para a decadência dos pastoris, é bom lembrar a resistência do Velho Xaveco e Suas Pastoras, lançando discos e realizando espetáculos em teatros ou a recriação do ator Walmir Chagas, com o seu Velho Mangaba.  

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