Delba dos Santos Ramos Gauvin
Nascida em 01 de janeiro de 1945, Delba dos Santos Ramos Gauvin, a oitava filha de Alzira Maria de Souza e Joventino Ramos de Souza, natural da cidade de Amparo de São Francisco, se declara filha de Canhoba, pois apenas nasceu na cidade vizinha, mas teve toda a sua vida e trajetória construída nesse município. Teve a sua infância e adolescência muito boa, junto aos seus irmãos e alguns amigos, costumavam brincar ao logo do dia, privilegiada mesmo em meio aquele tempo machista, desfrutou da liberdade e assim abraçou as oportunidades disponíveis para jovens que se interessassem a participar dos movimentos religiosos da igreja católica, e logo começou a se destacar representando os grupos vulneráveis daquela época.
Muito proativa, sempre teve sede de saber, de conhecer, então começou a estudar, se capacitou fazendo cursos e aprimorando os seus conhecimentos enquanto viajava com os padres, pois foi nessa época (de 70), quando veio a seca, que viajou muito com o padre Nestor e padre Gregório, e dentre essas viagens adquiriu tuberculose, onde precisou ficar internada no sanatório para se recuperar, e após isso não chegou nem a terminar os estudos, parando no “ginásio”, pois também as divergências políticas daquela época dificultavam o seu retorno com as fugas do seu pai.
Casada com um francês missionário que veio para Propriá, o senhor Remi Gauvin, começou a entender com ele, e com os padres, como podia lutar pelas pequenas causas, empoderar os povos mais carentes e apropriá-los de terras e direitos, que naquele tempo gerava dor de cabeça nos grandes fazendeiros. Através da JAC, o movimento da juventude agrária católica trazido pelos padres, conseguiram verba financeira para comprar terras e formaram a associação que unia Canhoba e Amparo, a famosa Jaguaripe, onde foi construída a primeira ponte que foi de madeira e depois reformada pelo estado e então consolidou-se a Ponte do Jaguaripe, foi quando começaram as perseguições e mal tratos vindos dos governantes da época que temiam a revolução do povo pobre e queriam impedir que os mesmos obtivessem conhecimento, começaram as ameaças, inclusive num sábado de carnaval, a própria Delva junto ao seu marido, ficou sabendo que a ponte seria destruída as escondidas e ao saberem, foram para o local, com o único filho do casal, ainda recém-nascido e assim impediram o que seria uma tragédia para a associação. Seu falecido marido, que já partiu para os céus a cerca de 10 anos, deixou o seu legado perpetuado em sua família e a eterna gratidão de muitos amigos e associados beneficiados pela luta da causa.
Lucas Ramos Gauvin, filho único dos ativistas sociais, veio como uma bênção, um presente inesperado dos céus, pois assim como sua irmã, dona Delba tinha problemas de fertilidade e não conseguia engravidar, foi quando então pegaram para criar o Lucas e o adotaram legalmente para que pudessem leva-lo para França. Atualmente é microempresário e carrega consigo o dom de ajudar e estar engajado em movimentos sociais.
Muito embora tivesse tido boas oportunidades e desfrutado da liberdade, dona Delba carrega em si muitos traumas e complexos mentais desenvolvidos durante a ditadura militar, onde veio a queimar documentos das organizações, se esconder para que pudesse sobreviver, e também por toda perseguição que passou, até hoje tem pesadelos, porém, lúcida e muito corajosa, passou a cuidar da sua saúde mental com cursos de terapia e renovação dos conhecimentos, para que não parasse no tempo.
Conhecida nesse município pela tão saudosa pastoral da criança, que foi fundada no Brasil em 1983 por Dra. Zilda Arns Neumann, teve umas das suas sedes em Canhoba, no antigo Centro Social São José, que atualmente é conhecido como casa paroquial, a Pastoral da Criança foi implantada nesse município por Dona Delba, que era a frente do movimento junto a outras coordenadoras diocesanas, como: irmã Estefânia, irmã Aluízia (freiras da época) e Maria de Lourdes. O objetivo de Dona Delba ao trazer a pastoral da criança era acabar com a mortalidade infantil que era comum através da desnutrição.
Eram desenvolvidas atividades educativas em saúde, como: prevenir doenças sexualmente transmissíveis e capacitar agentes de saúde, sem deixar de destacar a prática da escrita e da leitura e educação social. No povoado Caraíbas obteve sucesso pela parceria e apoio que teve do ex-prefeito Frederico Torres, a sua esposa Almair e das suas filhas Raimunda e Lindinalva que não hesitaram em ajudar o projeto, e Zanzinha, Alberta e Neta que mantiveram a pastoral de Caraíbas ativa e tiveram a oportunidade de ter uma formação através do então prefeito na época, o senhor Frederico Torres. No povoado Borda da Mata as representantes eram Leninha e Patrícia, em Mamoeiro Núbia, em Canhoba Lurdinha de Averaldo, em Amparo quem coordenava em Maria José mais conhecida como Báia, também Clenir e Adriana, entre outras, muito grata por todas essas líderes e coordenadoras de comunidades que formavam a equipe da Pastoral da Criança, ressalta a importância de que sem elas nada teria sido possível. Foram muitas conquistas relevantes e benefícios para a comunidade canhobense: cursos de corte e costura, associação de rendeiras, hortas comunitárias e galinheiros onde obteve ajuda de Vanuzia Silva para articular entre os povoados e os motoristas Willames, José Alberto e Marcos, sempre buscando todos os recursos possíveis para suprir a necessidade e a fome das pessoas, além de trazer conhecimento.
Uma verdadeira guerreira, Dona Delba merece todo reconhecimento por toda a sua história, os movimentos nos quais se engajou e por toda bem feitoria que fez, mesmo tendo passado por todo o sofrimento, perseguições e ameaças, a mesma ressalta que viveria tudo novamente e não se arrepende de absolutamente nada pelo o que fez em prol do bem comum, da saúde, da educação e por ter matado a fome de muitos com o famoso farelo, quem não se lembra do farelo da pastoral, certamente daqui não é!
Para senhora Dona Delba, nosso muito obrigado e os nossos aplausos!
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