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06/03/2006 16:04Osmario Santos
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Adauto: vida de trabalho e sofrimento
A trajetória de um homem simples que venceu na vida pelo seu espírito de luta
Adauto Custódio Divino nasceu a 3 de junho de 1952 no povoado Sítio Novo no município de Canhoba/SE. Seus pais: Atabílio Custódio Divino e Nazareth Custódio Divino. O pai iniciou na vida trabalhando na roça e como proprietário de uma pequena bodega. Tempos depois conseguiu ingressar no Estado e passou a ser polícia fiscal lotado na cidade de Canhoba. Dele o filho herdou o amor ao trabalho e toda atenção e doação aos filhos. “Meu pai tinha um terreno onde ele trabalhava na roça e vendeu para que os filhos estudassem em Aracaju. Jamais esquecerei o que ele fez por nós. Dele também herdei a veia política, pois foi vereador em Canhoba e desde cedo me ensinou a respeitar o povo, a lei e a não pegar nada de ninguém”. Sua mãe teve 29 filhos e 13 estão vivos. Sempre se dedicou ao lar e aos filhos. “Ela sempre incentivou os filhos para tudo de bom na vida. Morreu há dois anos e dela tenho muitas saudades. A falta que sinto é tanta que de vez em quando choro, porque não tenho ela ao meu lado (lágrimas). Ela nos passou muita fé em Deus” (lágrimas). Desde o dia que nasceu até os 21 anos de idade, Adauto Custódio viveu em sua terra natal e desde cedo ajudou os pais no sustento da família. “Como era muitos irmãos, eu andava muito com o meu pai. Ele tinha uma bodega no povoado Sítio Novos e desde os três anos ia com ele fazer compras em Propriá, para abastecer a bodega. Lá eu fazia de tudo. Quando não estava trabalhando na bodega, estava cuidado da roça. Mas não ficava só nisso: ia pegar água em Amparo do São Francisco, montado em burro e também vendia peixe na feira de Canhoba e cidades vizinhas”. Do seu tempo de criança boas lembranças dos jogos de futebol. Não esquece que tinha como companheiro de bola, o deputado Ulises Andrade. “Como eu era ruim de futebol, comprei uma bola de couro em Propriá. Antes da compra da bola, meus irmãos e outros amigos escalavam os times no momento do jogo, mas ninguém me chamava. Como dono da bola só jogava quem eu aceitasse (risos), não faltava oportunidade para bater uma bolinha” (mais risos). Aprendeu com a professa Adecéia as primeiras letras, numa escola municipal no povoado Sítios Novos. Mais adiante, seus pais fixaram residência em Canhoba e lá estudou o curso primário no Colégio Hermes Fontes e teve como professores Antônio Guimarães Torres e Zunara de Jesus Torres. Com o dinheiro apurado na venda das 150 tarefas que tinha, seu pai mandou Adauto Custódio e mais três irmãos estudarem em Aracaju no ano de 1970. Numa pensão localizada na rua Laranjeiras, 411, acomodou todos eles. “Tirei o ginásio no Colégio Pio X. Desse tempo tenho boas recordações da pensão de Dona Pureza”. Faz o primeiro ano do curso científico e deixa os estudos de lado, quando é aprovado em concurso para a Petrobras, no ano de 1976, aos 26 anos de idade. Mas antes de assumir o emprego, por um mês trabalha numa empresa particular que prestava serviço à Petrobras no Tecarmo, como chefe de turma. De 76 a 81 trabalha na Petrobras fazendo serviços gerais em sondas e com toda a alegria do mundo. “A Petrobras foi a minha vida, pois desde criança quando via um cavalo-de-pau na beira da estrada entre Carmópolis e Maruim, sempre dizia a meu pai que um dia iria trabalhar na Petrobras”. Em 1981 faz concurso e começa a trabalhar como plataformista da Petrobras, o que fez aumentar o ordenado. “Na nova função trabalhei em vários Estados: Sergipe, Alagoas, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Rodei muito o Brasil e conquistei muitos amigos”. No ano de 1983 se acidenta em trabalho quando operava uma chave flutuante. Resultado: três cirurgias no joelho e aposentadoria por invalidez. Mas a sua vida não só foi de flores. “Dentro do período de trabalho como plataformista, de 1981 a 1997, tive um espaço que marcou muito minha vida. Com a admissão do Plano Collor, no ano de 1990, quando a Petrobras demitiu 910 funcionários alegando condições financeiras da empresa, minha vida mudou por completo, pois passei a sentir várias necessidades, já que o meu nome estava entre os demitidos”. “Minha vida passou a ser dolorosa. De 1990 a 1994 morreram dois filhos adotivos. Meus filhos sofreram muito, pois tivemos de fazer restrição até na comida. Com isso apareceram várias doenças na família, inclusive desnutrição. Foi o maior inferno. Tive que ter muita calma para poder levar a vida. Foi aí que entrou uma coisa que jamais esquecerei e que me fez ser muito grato à imprensa sergipana, que passou a me dar espaço divulgando o meu problema, que pela graça de Deus foi resolvido”. “Antes de ser demitido era petista roxo. Eu pensava que quando a gente fosse demitido quem me colocaria de volta no emprego eram os petistas, como Renatinho, Ismael, José Eduardo, Marcelo Déda, esse povo todo. Na época esse povo me pedia para que desse cassete em Albano Franco e João Alves. Caía na onda e fazia o que eles me pediam. Quando fui demitido, procurei os petistas e de todos eles ouvia a mesma frase: ‘Adauto, a gente não tem condições de colocar você pra dentro. Só quem tem força política de botar você pra dentro da Petrobras, e só existe esta pessoa no país, chama-se Albano Franco”. “Fiz um documento e fui atrás da bancada municipal, da estadual e da federal de Sergipe e em cima coloquei: com o apoio de Lula e de Vicentinho. Primeiro, fui aos vereadores e eles me responderam que só Albano Franco teria condições de me ajudar. O mesmo aconteceu com os deputados estaduais e federais. Parecia nos meus ouvidos que era um disco gravado. Passado o tempo encontrei no aeroporto de Aracaju Vicentinho e dele ouvi que só Albano Franco poderia me salvar, pois ele era presidente da CNI e senador de grande influência. “Inconformado, um certo dia, pego Lula no aeroporto de Aracaju. Me lembro bem a data: dia 23 de maio de 1993, nunca esqueço. Ele ia para Recife às 7 horas da noite. Como moro perto do aeroporto, fui em casa ligeirinho, peguei meus documentos e mostrei para o Lula. Disse que era um dos demitidos da Petrobras com o Plano Collor em 1990, não só eu como todos os meus colegas. Dele ouvi: ‘Companheiro, você tem uma caneta aí?’. Respondi: ‘Tenho’. ‘Papel também?’. Respondi: ‘Tenho’. ‘Vou fazer um bilhete para um amigo meu e este amigo vai levar você para a pessoa certa e séria, um dos homens mais ricos do país e que tem o maior poder no país. Ele hoje manda mais que o presidente da República e mais: ele gosta de resolver esse tipo de coisa’. Logo pensei que seria José Hermínio de Moraes, mas logo ele me disse: ‘Chama-se Albano Franco’ (risos). Quando ele disse o nome de Albano Franco tirei a estrelinha do PT e disse ao Lula que a partir daquele momento não seria mais petista”. “No outro dia avistei Albano Franco no aeroporto e logo fui dizendo que era um dos demitidos da Petrobras. Ele me mandou que fosse no dia seguinte, às 10 horas da manhã, na Fundação Augusto Franco, que iria me atender. Mas antes me perguntou se eu era o filho de Atabílio e me disse que era muito amigo de meu pai”. “No outro dia, peguei meu bagulho e na hora marcada Albano me atendeu. Tão logo relatei a minha situação, ligou para o presidente da Petrobras, Joel Renot, que respondeu que o problema dos funcionários demitidos estava no Tribunal Superior do Trabalho e que ele tinha de falar sobre o assunto com Itamar Franco. Albano tentou ligar para Itamar e não conseguiu. Pediu que retornasse 15 dias depois. Como senti que ele estava falando sério, comecei a chorar de alegria”. “Quando voltei a falar com Albano Franco me senti aliviado, depois que dele ouvi que a questão seria resolvida. Me contou que tinha falado com Itamar Franco, que pediu-lhe que ele fosse falar com Aristides Junqueira, que era procurador geral da República, sobre a questão que não só me afetava como aos demais demitidos em outros Estados, pois estava o processo envolvendo a demissão. Mas não ficou só nisso. Me levou a Brasília, me apresentou a Aristides Junqueira. E sabe o que o procurador geral da República fez? Abriu um inquérito civil contra a Petrobras e tudo foi resolvido”. “No dia do julgamento eu estava em Brasília com o advogado Cezar Britto, que era o advogado dos sergipanos, e o advogado Normando, do Rio de Janeiro. A gente presenciou a decisão do TST. Ao seu final, quando a gente ganhou por unanimidade, Cezar Britto me deu um abraço e me disse: ‘Adauto, todos os demitidos da Petrobras em nível nacional têm que agradecer não a mim nem a Normando, e sim a Albano Franco’”. Adauto Custódio é reintegrado na Petrobras em janeiro de 1997. Conta que desde menino gostava de ouvir rádio e nunca perdia o noticiário apresentado pelo Silva Lima. Como o radialista gostava muito de falar das autoridades, colocou em sua mente que um dia alguém ia levá-lo até uma autoridade brasileira para que fosse fotografado ao seu lado. Graças a Albano Franco realiza o grande desejo com Fernando Henrique Cardoso, quando presidente da República. Daí por diante, fotos e mais fotos foram tiradas e continuam sendo tiradas. Máquina de fotografia é que não falta na casa de Adauto Custódio. “Por causa da foto com Fernando Henrique, muita gente ficou com ciúme, porque só eu tirei foto a seu lado. Fui barrado pela segurança do presidente e pela segurança do governador, mas Albano me conduziu a Fernando Henrique”. Hoje tem 150 fotos de pessoas famosas. “Minha paixão é pelos políticos sérios e integrantes do Judiciário. Estou colocando moldura com vidro em todas as minhas fotos ao lado de autoridades. Irei colocar todas elas na parede de minha casa e vou convidar os amigos e a impressa para abrir solenemente a galeria das autoridades brasileiras. É um negócio que ninguém tem” (risos). Casou com Gilvani Linhares em 1986. “Como contei, perdi dois filhos adotivos, mas fiquei com o xodó da minha casa, que é a minha filha adotiva Carolina. Do meu casamento com Dona Gilvani tenho os filhos Adauto e a minha querida filha Theireey”. Como deixou de beber, resolveu construir em Sergipe um centro reabilitação para drogados. “Só consegui fazer o projeto”.
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