Por Kiko Monteiro
Há precisos dois anos recebemos uma mensagem de um velho
amigo nos pedindo um apoio para sua pesquisa. Com a finalidade de
colher informações sobre a situação atual, enfim sobre a preservação de
um dos ranchos seguros frequentados por Lampião em território Sergipano.
A este amigo que nos inspirou e tanto suporte técnico
nos prestou dedico o presente texto. Do qual nos esforçamos pra trazer
pelo menos “uma novidade” a ser acrescentada na pesquisa dos senhores
rastejadores e confrades que nos dispensam suas atenções.
Alerto que vai haver anacronismo, conjectura etc.
inevitável. Lembre-se que estamos lidando com um capítulo de cangaço não
é mesmo?
Meu “aglomerado” só quer colaborar.
Fugindo do “Gabinete”
Estamos falando da “Borda da Mata” uma das propriedades do coronel Antônio Ferreira de Carvalho, o lendário “Antônio Caixeiro” no município de Canhoba.
Lancei a questão numa das comunidades desta cidade no
Orkut. Passados mais de um ano eu já nem lembrava de conferir respostas.
O interesse do pesquisador, independente deste resultado já havia se
desfeito.
Quando a professora
Dayana Ferreira uma das memorialistas da história local nos procura com notícias precisas e surpreendentes.
Nem só de pescas, no conforto do escritório vive um blogueiro… pé na estrada, no mato, na lama…
82 anos depois, lá estava eu, a procura de remanescentes da era “
lampionica”, com suas preciosas lembranças. Histórias do Coronel, do “Dr” e principalmente sobre a “amizade” destes com o Rei do cangaço.
O velho casarío dos Carvalhos dividido em quatro casebres
Borda da Mata agora é um distrito. A velha sede ainda
está parcialmente preservada. Ao seu lado as casas foram “se emendando”
lado a lado com vista para o São Francisco. Sobrou pouco da vastidão de
mata atlântica que predominava em toda região. Sim, apesar da
proximidade com o Alto Sertão a Caatinga neste pedaço de Sergipe não
compõe a paisagem. Chove regularmente, às vezes tanto que o alagamento é
inevitável.
Não é açude nem lagoa! É resultado das chuvas
Realizamos duas visitas técnicas.
Comecemos pela cidade que tão bem nos acolheu.
Canhoba
que já foi um povoado de Propriá fica a 124 quilômetros de Aracaju. As
suas terras se situam à margem direita do Rio São Francisco. Possui
4.000 habitantes
Os primeiros foram os índios da tribo Cataioba.
Segundo pesquisadores, Canhoba quer dizer em língua portuguesa “folhas
escondidas”, uma planta medicinal usada largamente pelos indígenas. Uma
espécie de planta que produz milagre. A palavra “Canhoba” é a junção de
duas outras. Segundo o tupinólogo, Theodoro Sampaio, em seu Dicionário
da Língua Tupi, “Can” quer dizer cânhamo, e “oba” é o senhor da terra.
Cataioba e Curral de Barro foram duas denominações que esta terra
recebeu.
Entre as festas religiosas, a principal é do Santo
Cruzeiro. A partir de 7 de junho de 1910, quando a Santa Cruz foi
edificada pelos freis Rocha e Anatanael ao
concluir uma santa missão no lugar de todos os anos, a partir do
seguinte passou a comemorar o Santo Cruzeiro, um testemunho de fé e
religiosidade.
1ª Matriz da Cidade
O governador
Eronides Ferreira de Carvalho é um dos
filhos mais ilustres de Canhoba. Nasceu na Borda da Mata em 25 de abril
de 1897. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 20 de Dezembro
de 1917.
Foto oficial do Governo Eronides. Acervo de Luís Rubens
Nascido em São Braz, município de Alagoas, em 24 de
março de 1873. Comerciante de primeira extirpe vocacionado para o ramo,
iniciou sua carreira como caixeiro viajante. Daí o porquê do apelido.
Resolveu se estabelecer em Canhoba. Inicialmente tomou
conta de uma loja na “rua da Bambá” hoje praça da matriz,
estabelecimento que pertencia ao major “Bilé” de São Braz, seu patrão. Mais tarde de mero empregado aos poucos passou a ser um concorrente.
Enriqueceu como agiota, e como um comerciante
incentivador da produção do algodão. E aí o simples caixeiro passou a
ser influente senhor das terras de Canhoba e também de Gararu, Porto da
Folha e outros locais do Sertão do São Francisco. Industrial,
pecuarista, plantador e colhedor de arroz, milho, feijão e mandioca.
Casou com Balbina Mendonça de Carvalho, sergipana de Capela e com ela teve nove filhos. Da mãe do interventor pouco colhemos. Vejamos o depoimento de Antonio Norberto da Silva, 98 anos.
Antonio Norberto da Silva, 98 anos
Natural do Pernambuco chegou a Borda da Mata com quinze
anos de idade atravessando o velho Chico, fugindo da ira de um patrão
que queria matá-lo por ele ter deixado escapar parte de um rebanho rio
abaixo.
Disse-nos que “Dona Branca” apelido da
Senhora Balbina era malvada com os empregados. Comportamento assinalado
em todas as conversas que mantivemos. Seu Norberto conta que a patroa
apesar de muito religiosa fazia uso de bebida alcoólica.
- “A cachaça piorava a brabeza da mulher”.
Certa vez numa dessas crises, quando ele estava com as
mãos erguidas pilando massa de milho, por pouco a patroa não lhe fura a
barriga com um pequeno punhal, tudo por causa de uma resposta
inadequada.
- Dona Branca geralmente deitava-se numa rede e
pedia a uma das serviçais que fizesse massagem em seus pés. Era
prontamente atendida, mas se a coitada cochilasse… Era ferida no rosto
com um “pé de peru”. Isto mesmo, o membro da ave que ele a costumava por
no sol para secar e enrijecer garantindo mais dor aos lerdos e
desobedientes.
A vizinha e velha amiga, Maria Chaves foi
vítima do tal “pé de Peru”. Ela está viva, aos 104 anos de idade,
muitas histórias teria pra nos contar por ter trabalhado diretamente na
cozinha dos Carvalhos, porém na ocasião de nossas duas visitas
encontrava-se enferma na capital.
Mancomunados com o Rei do Cangaço
- Entre meu filho! – respondeu Dona Branca. E
virando-se para o marido, que assomava a sala, explicou: Antonio é o
capitão Virgulino que chega perseguido pelos soldados de Alagoas e pede
pousada. Já mandei ele entrar.
É assim que o escritor Nertan Macedo que entrevistou Eronides descreve a chegada de Lampião na Borda da Mata numa madrugada escura de Agosto de 1929.
Não há registro de uma pousada anterior, o capitulo na
obra “Lampião, Capitão Virgulino Ferreira” de Nertan é detalhado,
descreve uma enorme hospitalidade para acomodar mais ou menos 20
cangaceiros que dormiam e se revezavam de sentinelas espalhados pela
casa em companhia do casal.
Lampião conhecia “os Carvalho” desde a sua juventude. Quando
percorreu a maioria dos caminhos que viria a fazer mais tarde como
bandoleiro. Revendendo nas fronteiras de Alagoas e Sergipe, como simples
almocreve conheceu a família. E agora já como poderoso chefe
cangaceiro, aproveitou para visitar o Coronel.
Sabendo do poder do grande comerciante Lampião pediu abrigo e comida,
sendo prontamente atendido, onde lhe foi autorizado o abate de rezes
etc, mas que seus moradores e contratados não fossem molestados por seus
homens.
Esta improvisada reportagem não pretende, e nem se quisesse iria
conseguir elucidar esse grande mistério do cangaço. Se o chefe do
executivo sergipano foi realmente o principal “Paiol do poderio bélico
de Virgulino” é assunto secundário eu quero tratar da amizade e
tolerância.
Os capitães se reconhecem
Eronides foi apresentado a Lampião em agosto de 1929, durante os dias em
que se restabelecia de uma enfermidade na fazenda Jaramataia
propriedade de seu pai no município de Gararu.
Algumas biografias dão conta de que esse encontro se deu “antes” de
ele estar com Caixeiro. Outras que foi numa visita do interventor até a
Borda da Mata.
A ordem dos fatores… Em ambas há um mesmo parágrafo: Trocam
cumprimentos e o Dr. faz a Lampião uma indagação que entrou para galeria
das “máximas cangaceiras”.
- “Então, como devo chamá-lo, capitão ou coronel?
Porque eu também sou capitão e deve haver aqui uma hierarquia – como
oficial do exército não posso ser comandado pelo senhor”.
Lampião compreendeu a malícia e replicou: - “Pois desde já o senhor está promovido a coronel”.
Após o café Eronides presenteou Lampião com uma garrafa
térmica e uma caixa de queijos importados. Naquele instante nascia uma
estreita amizade. Lampião passou a tratar de negócios, queria munição
especialmente para sua pistola Luger (Parabellum) cujas balas eram
difíceis de encontrar.
Brinquedo preferido de Virgulino. Imagem meramente ilustrativa
Lampião e seus cabras na mais pura tranquilidade passaram quase todo
ano de 1929 em Sergipe, circulavam da Borda para a Jaramataia.
Foram longas conversas, documentadas pela câmera fotográfica de
Eronides, em 27 de novembro de 1929 em fotos que o cangaceiro posa de
perneiras que compunham o uniforme do capitão Eronides. [Lampeão e seu
grupo sentados], [Lampeão e seu grupo montados em cavalos], [Ponto Fino e
Arvoredo], [Zé Baiano], [Moderno, Mariano, Arvoredo, Calais. E outros.
Se Lampião e Eronides posaram juntos esse arquivo comprometedor foi bem
escondido.
De pé: Ezequiel, Calais, Fortaleza, Mourão e o menino Volta Seca. Sentados : Lampião, Moderno, Zé Baiano e Arvoredo.*Mariano foi omitido. Na original ele aparece esq. de Ezequiel. Até o momento não conseguimos scanear em boa resolução.
Zé Baiano *As imagens acima pertencem ao acervo de
Luis Antonio Barreto
Por favor, um médico!
Foi através de Eronides que os cangaceiros conheceram as propriedades
analgésicas do ácido-acetil-salicílico. Em dado momento perceberam que
um dos cabras apresentava o rosto inchado e queixou-se de dor de dente. O
Dr. trouxe-lhe o comprimido o qual inicialmente não ingeriu. Olhou para
Lampião que fez um sinal de consentimento com a cabeça e em algumas
horas tinha sua dor aliviada pelo comprimido. Uma aspirina.
Outra propriedade dos Carvalho que era pouso seguro para os cangaceiros era a fazenda São Domingos em Porto da Folha.
E o relacionamento foi esquentando.
Billy Chandler, conclui: “Muitos acreditavam que
Eronides e sua família não se limitavam somente a permitir que Lampião
acampasse em suas terras, ou a mandar-lhe presentes de balas, ou mesmo
usar sua influência para impedir que a polícia o perseguisse. Suspeitava
também que eram seus principais fornecedores de Munição.”
Em 1935, Estado Novo de Vargas, Eronides elegeu-se
governador do Estado. Desde logo, tornou-se entusiasta da emancipação de
Canhoba.
A ideia pela emancipação iniciou-se antes de tornar-se
interventor. Existia uma oposição em Propriá e na Assembleia
Legislativa. Luiz Garcia era a principal figura pela não emancipação.
Se não tivesse ocorrido a implantação do Estado Novo, o projeto seria
reprovado. Ele nem chegou a ser votado, pois Getúlio, no Rio de Janeiro,
deu o golpe de Estado e os legisladores sergipanos foram cassados.
Eronides, já confirmado como Interventor Federal, aos 23
de Dezembro de 1937, dissolveu a Assembleia e criou o município de
Canhoba.
Em 23 de Janeiro de 1938, Eronides, que tomou posse como
governador em 1935, com o Golpe de 1937 foi nomeado interventor federal
por Getúlio Vargas. O seu governo durou de 1935 a 1941.
"No governo de Eronides de Carvalho voltam à cena
política as oligarquias ligadas ao setor açucareiro. O governo de
Eronides de Carvalho torna-se altamente repressivo. A sua administração
coincide com período do levante comunista ocorrido em 1935, conhecido
como Intentona Comunista. A partir desse momento amparado pela de
Segurança Nacional o governo de Eronides de Carvalho reprime toda e
qualquer organização de trabalhadores, bem como, inibe através da coação
a organização de uma oposição ao seu governo. Além disso, manda fechar
jornais e entidades representativas e governa praticamente sem oposição.
Nesse período sua administração implementa um governo de apoio às
facções dominantes, sucateando a máquina do estado, trazendo como
consequência a sua destituição do cargo". [ Ibarê Dantas]
Por que “Os Carvalho” não evitaram essa infeliz notoriedade?
Às mãos de Lampião, com ou sem proibição, durante todo o
tempo armas e munições continuaram a chegar regularmente, por
intermédio de políticos e militares corruptos, tomadas a força, através
de contrabando ou “herdadas” dos soldados que tombavam em combates.
É claro que as fontes abastecedoras de Lampião eram
mantidas debaixo de sete chaves. Todas as transações eram realizadas de
modo confidencial, as entregas feitas por intermediários de alta
confiança e efetuadas muitas vezes nas caladas das noites. Poucos entre
os homens de Lampião, exceto os mais chegados, sabiam quais eram estes
fornecedores.
A ex cangaceira Dadá disse que a
identidade dos que forneciam armas ao capitão era segredo que ela sabia e
que levaria consigo para a cova. Evidentemente ela, por ter sido mulher
de Corisco e comadre de Lampião, muito deve saber. Após 50 anos do
começo do esfacelamento do cangaço, no entanto ela recusara fornecer
nomes argumentando que não ia delatar “quem lhes sustentava”.
Quando os carregamentos com armas e munições eram
entregues a Lampião, ele em pessoa fazia a distribuição entre seus
homens e as revendia para os subgrupos. O restante era armazenado para
futuro suprimento, guardado em garrafas e metidas nos ocos dos troncos
das árvores, ou enterradas nas áreas por onde os bandidos costumavam
transitar. FONTE, Oleone Coelho, págs. 322,323.
A suspeita foi levantada a partir de indícios contundentes.
Oficiais como Zé Rufino recolhiam as
cápsulas dos cangaceiros após as lutas e constatava que estas eram
sempre novas, fabricadas a dois no máximo cinco, anos anteriores
enquanto que as balas disponíveis para as Volantes eram dez ou até vinte
anos mais velhos.
Em comunhão com a pesquisa de Cesar Megale e Sabino Bassetti no
seu livro “Lampião, sua morte passada a limpo” também acreditamos que
estas balas não chegavam a passar pelos depósitos da policia. Eram
fresquinhas, diretamente para as mãos do Rei. (FALTOU A PÀGNA DO LIVRO
DE MEGALE E BASSETTI).
Balas do ultimo tipo não eram fácil de ser adquiridas no
nordeste, sobretudo em vilas, povoados e lugarejos isolados nas
caatingas. As de uso militar, clandestinamente, só eram encontradas no
Sul do país.
Para tê-las, pois em grande quantidade, só por
intermédio de alguém de influência. Os Brittos e os Carvalhos de
Sergipe, certamente eram os mais prováveis.
O cangaceiro Volta Seca, sergipano de Itabaiana, preso em 1932, iniciando sua carreira de falastrão se encarregou de apontar Francisco Porfírio e seu filho Hercilio de Britto. E do lado baiano o coronel João Sá de Jeremoabo. FONTE, Oleone Coelho, págs. 322,323.
1ª página Correio de Aracaju, 5 de Novembro de 1929.
Voltamos a 1935
Criticado e perseguido pelos seus opositores que eram maioria na
Assembleia Legislativa ele aparece na imprensa oficial do Estado
condenando o cangaço e os seus colaboradores, e cobrando um fim para
esse flagelo.
Apresentava estratégias para combater o banditismo. Mas sempre
protestando por conta da verba destinada pelo Governo Federal para esta
campanha. E tentava amenizar os críticos lembrando que naquele período
os crimes de Lampião e seus asseclas se resumiram em “sacrificar
animais”.
Jornal Folha da Noite (atual Folha de São Paulo) 17 de fevereiro de 1936. Pág. 43.
No dia 2 de julho deste mesmo ano o interventor chegou a assinar um
pacto de cooperação e ação com os outros Estados que conheciam a fúria
do Rei do cangaço.
Eronides a direita. Entrevista para a Folha da Manhã, São Paulo.
Em 7 de Setembro de 1936 na mesma tribuna ele comunica com euforia a eliminação de Zé Baiano no povoado Alagadiço – Frei Paulo, SE.
“Para os bandidos diminuiu evidentemente o
crédito do coiteiro sergipano em virtude das circunstâncias e dos
elementos participantes da eliminação de José Baiano”.
Após a morte de Lampião em Angico, novas notas foram
veiculadas pela imprensa destacando este acontecimento em Alagadiço,
como prova de que a Força do Estado comandada por Eronides atuou
severamente contra o cangaceirismo. Travando uma guerra constante
matando diversos entre eles.
Quem já leu este episódio sabe que Zé Baiano foi morto por “coiteiros
civis” que o traíram. As autoridades só tomaram conhecimento vários
dias depois.
Até dia 28 de Julho quando se dá o extermínio de Lampião, a policia sergipana não registrou a morte de
“nenhum de seus cangaceiros”. As cabeças que aqui rolaram foram troféus dos Nazarenos e outros oficiais de Pernambuco, dos alagoanos e baianos.
Com Eronides na capital cabia a seu Antonio cuidar das feras no sertão.
Era 1938. As autoridades alagoanas sabiam que os últimos três anos de
Lampião foram de idas e vindas às fazendas dos Carvalhos. O Jornal de
Noticias da Bahia espalhou pelo nordeste inteiro de que ele havia
morrido em Janeiro de tuberculose.
Não localizando o governador jornalistas cobravam explicações de seu
Antonio Caixeiro. Este procurando defender a integridade do seu filho
bradava que
“A partir do momento em que Eronides assumira o governo, Lampião não pisara no Estado, quiçá em nossas terras”.
Ora negava, ora assumia em afirmativas inconsequentes.
Eloy Mauricio, comerciante de Girau do Ponciano, AL.
que teve seus armazéns saqueados por cabras de Lampião em abril daquele
ano. Procurou o velho amigo e conterrâneo Antonio Caixeiro para que
este intercedesse ao grande chefe. Caixeiro respondeu que sua influencia
sobre Lampião… se estendia somente a Sergipe.
Que espécie de influencia era esta que permitiu inúmeros crimes e
perversidades nos povoados e cidades vizinhas. A amizade de Lampião com
os Carvalhos não garantia trégua dos sequazes na região. Certamente não
havia recomendações.
Existem relatos de terras tomadas pelos bandoleiros e doadas para o
fazendeiro e outras histórias apócrifas que não podemos dar vazão.
O que é fato amplamente registrado na literatura é o desrespeito com
as famílias do Sertão, baixo e Alto São Francisco. Contanto que não
fossem moradores da Borda ou da cidade clientes ou funcionários em
potencial. Isso sem falar de Frei Paulo, Pinhão, Simão Dias, Capela,
Dores etc.
Proximidade entre os municípios citados nesta matéria
Vejamos as depoimentos de quem estava lá naqueles dias
Acompanhado do amigo Magno Ferreira visitamos alguns ex empregados de
Seu Antonio, testemunhas vivas desta época a fim de colher possíveis
relatos de abusos o quem sabe conivência do patrão em castigos
impetrados pelos cangaceiros.
Entre os remanescentes a opinião foi unânime,
- Sei que o coroné Antonio foi “Um santo”. Deu abrigo, emprego, comida, foi o padrinho de batismo de centenas de pessoas.
Nos relatou Gedalva Nunes de Oliveira, A dona “Dalva” 97 anos, natural de Caraíbas dos Nunes, Alagoas. Mais uma das muitas afilhadas de Antonio Caixeiro.
Gedalva Nunes de Oliveira
- Meu padrinho socorria a pobreza, mas com interesse né? (Risos), tudo
na base do juro viu?. Ele emprestava digamos 8 alqueires de arroz pra o
cabra cultivar, mas o sujeito tinha que lhe devolver 9 (Risos).
E o Dr. ?
- Ah! era um homem bonitão, charmoso, gentil demais. Tratava de todos os conterrâneos. Ele me curou de uma pneumonia… e narra toda a ocasião.
De repente Dona Dalva lembra vagamente da passagem de Lampião a caminho da Borda da Mata pelo povoado Sítios Novos onde ela morava. Uma mocinha junto com sua irmã correram para se esconder nos matos.
- Mas Lampião respeitava a cidade sabe?. Não passava
por dentro “do” Canhoba. Só que uma vez ele mandou um recado pra uma
senhora do qual não recordo o nome, sei que ela era costureira e varava a
noite a costurar sob a luz de um candeeiro. E ele mandou um jagunço de
seu Antonio dizer que ela procura-se dormir mais cedo, pois era a única
que estava sempre acordada. Podia ver assombração. Se ele via ela
trabalhando então o bicho passeava por aqui né ?(Risos).
Contou sobre a sua amiga Isaura que foi uma das vítimas de Zé Baiano em Aquidabã:
- A pobrezinha foi deflorada e ferrada na face e nas
nádegas pelo bicho, muitos anos depois ela com a família vieram morar
na cidade, já morreu faz anos, hoje não existe nenhum parente vivo.
Terror na vizinhança
Foi também em Aquidabã, Outubro de 1930 que “José do Papel” 22 anos morador do povoado Cajueiro foi pego, surrado e teve uma das orelhas cortada pelos cabras.
José Custódio de Oliveira "Zé do Papel"
No centro comercial, em frente ao Armazém de Maximiano Calango, o grupo matou a com um tiro Souza de Manoel do Norte um
deficiente mental que protestou contra as depredações e ousou sacar de
um canivete representando “uma ameaça” para dezenas de fuzis e
revólveres. Segundo a literatura Souza de Manoel teve o abdômen aberto a punhaladas e as vísceras expostas.
Nesta mesma incursão o lavrador Eduardo Melo apanhou também teve uma orelha decepada e veio a óbito um mês após por conta dos ferimentos.
Em Amparo do São Francisco na época
também um povoado de Propriá bem próximo a Canhoba o armazém dos bisavós
da nossa anfitriã Dayana foi saqueado por quatro cabras. Tomaram não só
a mercadoria como todas as jóias que dona Maria da Conceição tentou em vão esconder entre os próprios seios.
A bela Maria da Conceição Evangelista da Cruz Cortesia de Dayana Ferreira
O produto deste roubo foi deixado sob a guarda de um
coiteiro que diante da demora em retorno destes cangaceiros, numa
atitude justa, mas logicamente insana resolveu devolver toda a
mercadoria a seus respectivos donos. Inclusive um punhal que estes
deixaram entre os pacotes. E os cabras realmente nunca voltaram para
resgatar o apurado.
O punhal
Cruzar caminho de cangaceiro… era problema de cada um
Lembram-se da clausula de não bulir com os vaqueiros de seu Antonio? Conheçam o caso do cabra Novo Tempo, sergipano de Poço Redondo, irmão da cangaceiraSila. Em fins de 1937 no ultimo grande combate, da fazenda Crauá ou “Fogo da lagoa de Domingos João” em Canindé (a época território de Porto da Folha). O grupo de Zé Sereno enfrentou as volantes de Zé Rufino e Cabo Besouro.
Zé Rufino em 1938. Acervo de Rubens Antonio
Ferido no braço este cangaceiro foi inicialmente socorrido pelo jovem Leônidas, filho da coiteira Delfina da fazenda Pedra D’água. Pensando estar em condições de seguir viagem pediu um cavalo ao colaborador.
Leônidas em foto de 2006. Acervo de Leandro Cardoso Fernandes
Sendo atendido, rumaram dois dias até bater em outra propriedade de… Antonio Caixeiro. A fazenda Pau Preto.
Lá ele procurou a casa do vaqueiro António José ou
António “dos pau preto” um velho conhecido da cabroeira que recebera
ordens do patrão para servir as ordens do capitão e sua gente.
E ali estava uma emergência: Novo Tempo, sozinho, ferido, ensanguentado, faminto, mas com os bolsos abarrotados de réis.
Ao invés de levá-lo imediatamente para dentro da casa
ele arrastou o cangaceiro para uma clareira próxima, notou os valores em
dinheiro, sacou seu revolver 32 e atirou na altura do ouvido de
moribundo.
Quando pensava iniciar a rapinagem ouviu um tropel que
se aproximava e correu da cena. Para seu espanto eram os cabras Juriti,
Balão e outro que estavam à procura do companheiro.
Perguntaram que disparo havia sido aquele, António
desconversou disse que tinha sido numa cobra apontando exatamente para o
local onde estava Novo Tempo. Desconfiados os cangaceiros foram checar
esta informação. Neste meio tempo o vaqueiro traidor montou no seu
cavalo e desembestou rumo ao encontro do patrão que estava em outra
fazenda, a Santa Filomena, perto dali.
Os cangaceiros ao chegarem à clareira encontraram
somente um filete de sangue que marcava a trilha de alguém que se
arrastou. Seguiram e encontraram Novo Tempo saciando a sede num charco
onde os animais bebiam água.
Pegaram o companheiro, antes retornaram a fazenda e
perceberam que o vaqueiro não estava, mas nem por isto tiveram a
suspeita. Chegando a fazenda Mandassaia foram recebidos por Zé Sereno
cunhado do ferido que imediatamente prestou socorro ao colega, a esta
altura mais debilitado que nunca.
Este foi tratado com os recursos do mato e experiência de Zé Sereno na troca periódica de curativos.
Recuperado. Novo Tempo contou o sucedido aos companheiros. Contou que o buraco no braço foi no Crauá. Já o do pescoço…
Aí a ordem era exterminar o vaqueiro do coronel. Que
aquela altura já tinha revelado o fato a seu Antonio Caixeiro que o
preparou dizendo:
- Você que se meteu nessa enrascada que sai dela. Sua família eu ajudo, mas você não, não dou um tostão por sua vida.
O caso é que António não fugiu, retornou a lida na
fazenda, naturalmente desconfiado, mas certo de que Novo Tempo não havia
sobrevivido a um tiro a queima roupa na “broca dos ouvidos”.
E além do mais por que Juriti e os outros não iriam lhe
atribuir a culpa. Eram tantos os ferimentos do combate do Crauá que
ninguém daria conta que aquele foi um acréscimo de sua parte. E tocou a
vidinha pra frente.
Até que certa manhã foi até o curral ordenhar as vacas e de repente se viu cercado e aprisionado pelos meninos do Capitão.
Amarrado de ponta cabeça na mesma clareira que pensou
ter matado Novo Tempo lhe fizeram de “pendulo humano” e balançado de um
lado para o outro cada cangaceiro lhe recebia com uma estocada de
punhal.
Sangrou até morrer servindo de exemplo pra os que ousassem trair os cabras de Lampião.
Passado algum tempo Zé Sereno contou a Antonio Caixeiro
sobre a sentença de seu vaqueiro, este repetiu o que havia falo para o
mesmo.
– Eu não levantaria um dedo para defendê-lo.
Muito tempo depois logo após as entregas Sereno pergunta ao cunhado:
- Cunhado você não está estranhando este caroço no seu pescoço?
- Estou sim…
Zé Sereno então diz que é a bala de “António dos Pau
Preto” e pergunta se Novo Tempo quer que ele extraia a bala. Com o
consentimento Zé pega uma faca bem afiada derrama cachaça e extrai a
bala que entrou pelo ouvido cujo projétil o corpo estava rejeitando.
Novo Tempo. Morreu de velho em Minas Gerais.
Clamor por Justiça
Os desmandos e truculências não se restringiam aos mais humildes. No município de Itabi seu
“Niro da vassoura”,
importante usineiro de cana de açúcar recebeu intimação para que
providenciasse dinheiro para um dos subgrupos. Sem condições de atender a
quantia ele fugiu antes da chegada dos bandidos, que não encontrando o
proprietário e sem respostas mataram todas as rezes e atearam fogo na
casa.
A revolta de seu Niro diante da negligência da justiça se fez ecoar
na capital federal. E nosso interventor começava ser pressionado pela
imprensa carioca.
Corria nos “diários” do Brasil afora que
“As forças
sergipanas faziam vista grossa. Evitavam os bandidos fazendo com que
Lampião ficasse inteiramente à vontade pra organizar sua rede de
coiteiros”.
Nota veiculada pelo Correio de Aracaju em 26 de Junho de 1937
Enquanto isto no agreste…
Mais depoimentos
Por eterno respeito e gratidão ao patrão, dois dos nossos entrevistados
pouco ou nada mencionaram sobre Lampião, nem sobre desmandos. Um destes
que não nos autorizou divulgação de seu nome não negou que o coronel
realmente gozava da amizade com o grande bandoleiro, e tinha seu
“exercito pessoal de jagunços”. Natural para qualquer coronel que se
preze.
Mauro Valentim dos Santos, 77 anos morador da Borda da Mata:
Mauro Valentim dos Santos
- Pra inicio de conversa: Seu Antonio mesmo nunca
matou ninguém viu? Apadrinhou muitos assassinos que procuravam abrigos
em suas terras. Era uma jagunçada da peste… Eles estavam aqui pra
pastorar os arrozais, era pra mais de cem caboclos, às vezes havia rixa e
morte entre eles mesmos. Faziam o serviço e enterravam por aí pela
mata.
Perguntei a ele se estas vítimas jaziam no“Apertado da hora”.
(Um leito de riacho seco, cortado pela estrada de acesso à fazenda na
época pelo meio da mata fechada. Que foi desova de cadáveres julgados e
sentenciados da Borda da Mata podemos considerar que é um cemitério, sem
covas nem sequer cruzes). O “Apertado da hora” por muitos anos foi um
trecho temido pelos moradores que precisavam passar altas horas da
noite, são muitas as estórias de assombrações a beira da estrada.
- O povo fala… não é do meu tempo, devia ser ali
mesmo. Mas lhe digo que era briga entre jagunços rapaz era muita intriga
entre eles, geralmente arrastavam inimigos de outras cidades, ou daqui
da redondeza pra matar aqui.
Seu Mauro conta o que ouviu dos mais antigos:
- Nestes últimos anos, só frequentava a Borda da
Mata o capitão. Os demais ficavam acoitados na “Gruta do morador” (um
coito que fica a dois quilômetros da sede da fazenda). A polícia de
Alagoas uma vez chegou pelo rio com indícios de que seu Antonio estaria
protegendo… Depois da negativa os soldados foram convidados pra janta,
depois foram embora sem insistir na busca. E Lampião estava deitado num
quarto ao lado ouvindo toda a conversa.
A seta indica a localização da gruta do morador.
Abre sua defesa pelo médico:
- Ói sobre esta conversa de munição. As balas que
Eronides mandava tanto pra Borda ou pra Jaramataia era para o pai, seu
Antonio, que era para a jagunçada dele, mas só que o Coronel desviava
metade para Lampião sem ele (Eronides) saber. Era assim: O Coronel é quem enchia os cartuchos do capitão, nunca o doutor. Compreende?. ..
E finaliza jogando a “batata quente” para o velho Caixeiro.
- E tem mais: Lampião recebia muita munição. Mas não
era de graça, Lampião pagava, ora emprestava ou simplesmente deixava
seu próprio dinheiro sob a guarda dele, assim como de outros coronéis
como João Maria de Serra Negra. Esses coronéis eram os bancos né?
Depoimento de Leôncio Rocha, 86 anos.
O criador da “Junça de Canhoba” uma cachaça artesanal até aí
nada de anormal, mas a embalagem das garrafas pet são adornadas por
notícias de jornais e filosofias populares.
Leôncio Rocha
- Nunca fui empregado de seu Antonio. Com 13 anos de
idade eu estudava, era encarregado de recolher o pagamento semanal de
minha professora que era feito por seu Antonio. Eu ia até Borda da Mata
só pra buscar o ordenado dela. Levava um bilhete explicando o valor e
ele prontamente me atendia colocando os $2 mil réis num envelope, depois
num bolso da minha camisa e prendia com um grampo para que as notas não
voassem.
Eu conversei com Seu Mauro e ele me disse que a jagunçada de Antonio Caixeiro era só pra pastorar plantação de arroz?
–Antonio Caixeiro não brincava com cabra safado,
tinha seus desafetos (Risos). Se soubesse de algum empregado mal
intencionado que estava ali pra lhe prejudicar dava as ordens e seus
meninos resolviam o problema. Era pra matar, longe da borda e da
cidade.
Lembro que curiosamente “o Apertado” fica ao meio a distancia das duas localidades.
E sobre as balas? Eram repassadas escondidas do filho?
- O Dr. dava de bom grado não podia recusar devia
obediência ao velho pai. Benção e obediência é duas palavras sagrada pro
sertanejo seu moço.
Um morador da cidade a pedido de nosso guia nos conta que conheceu pessoalmente o senhor Manoel Macola,
já falecido. Nunca escondeu dos mais chegados que serviu como
pistoleiro do Coronel e um de seus serviços mais constantes era de
enterrar vivo o sujeito.
Por pouco não virou cangaceira
Na nossa segunda visita, acompanhados pelo Dr. Arquimedes Marques e sua esposa, Dra. Elane, tivemos a oportunidade de conversar com uma importante testemunha das ocorrências cangaceiras.
Dona Laudicéia
Laudicéia Gomes de Matos, 86 anos.
Ela nos recebeu em sua casa, mas a princípio, não quis mexer no
passado. Trata-se de uma passagem desagradável daquelas que permanecem
indeléveis na memória.
Em 1937 ela era uma adolescente de 12 anos, menina moça, cabelos
compridos, gordinha, aparentava ter mais idade. Morava nos Sítios Novos,
(mesmo povoado citado anteriormente por dona Gedalva).
Recorda que eram 13 horas da tarde, cuidava sozinha da bodega de seu
tio. De repente do balcão ela percebe a inquietação dos moradores, viu a
aproximação de um grupo de homens fardados, chapéu, armas etc. pensou
que se tratava de uma força, mas eram cangaceiros.
Nada demais, a menina sabia que os cabras de Lampião não fazem mal a ninguém das terras de seu Antonio?!
Eis que um deles fitou a mocinha e foi em direção ao estabelecimento com um sorriso sarcástico.
Um senhor, que bebia percebendo o perigo que a donzela corria deu um
sinal com a cabeça para que ela corresse, demorou pra perceber a
instrução, mas assim que notou “fez carreira”. Perseguida pelo assecla
(um negro cujo nome ela nunca soube qual era) correu e se abrigou nos
fundos do cemitério despistando-o.
Depois que percebeu que estava segura rumou para casa. Lembrando que
os pais estavam ausentes trabalhando na roça foi se abrigar na casa de
uma tia.
Estes mesmos cangaceiros após cometerem saques partiram para o
povoado Poçãozinho, onde houve pequena refrega com uma força. Segundo
Dona Laudicéia houve uma baixa do lado dos cangaceiros, o que não pode
ser confirmado.
Dias depois soube ela que o “cabra solteiro” a queria como
companheira e havia confessado isso a um morador da vila. Se esta era a
real intenção não se sabe, graças a sua astúcia ela não foi mais uma
vitima de estupro.
Dona Laudicéia não teve sossego, ainda passou muitos dias escondida
com familiares, hora nas matas, ou nos fundos da casa. Até ter a certeza
de que Canhoba estava livre pelo menos dos cabras de Lampião.
Esta certeza só veio muito tempo depois de Angico
No histórico 28 de Julho de 1938 Eronides se encontrava no Rio de Janeiro. O jornalCorreio de Aracaju de 05 de Agosto de 1938 faz a reprodução da seguinte matéria:
Procurado às 22 horas do dia 28 no apartamento
105 do Palace Hotel por um repórter dos Diários associados, para
responder sobre a morte do grande bandoleiro o governador do estado
simplesmente ”desconhecia o fato”.
O governo dispunha de uma estação de rádio em
Monte Alegre cidade situada a 19 km de Poço Redondo que deve ter feito o
comunicado oficial para o palácio em Aracaju.
Em seguida Eronides teria recorrido a policia civil do Distrito Federal para passar a seguinte mensagem via rádio: - Mande noticias urgentes e detalhadas sobre a morte de Lampião no nosso território…
A mensagem foi transmitida pouco depois da 22 horas e trinta. Porem até às 24 horas a resposta ainda não havia chegado.
Sobre o feliz acontecimento ele ainda não poderia responder. Mas lembrou aos cidadãos do sudeste que:
Sergipe nunca se descuidou do problema da
perseguição ao grupo de Lampião. Para tal, mantinha seis turmas volantes
de 16 homens, cada uma no encalço do bandido, cerca de 500 homens da
força publica espalhados pelo interior, colaboravam na perseguição.
- Caso seja confirmada a noticia, é motivo
de jubilo para as populações nordestinas. Ressurgirá a tranquilidade da
família sertaneja.
Apresentou orçamentos que apontavam gastos de $200 contos de réis para manutenção das Volantes que perseguiam o rei do cangaço.
30 de julho, dois dias depois, o jornal Folha da Manhã ainda
apresentava dúvida quanto ao fato, todavia na coluna ao lado estavam
impressos telegramas de Maceió que davam como certa a tragédia.
Em 1° de agosto finalmente o Sergipe Jornal publicava um telegrama de Eronides que ainda se encontrava no Rio de Janeiro.
RIO, 30/08/38 INTERVENTOR FEDERAL Sergipe
Aracaju – Congratulo-me com o povo sergipano pela volta, nossos sertões,
da tranquilidade, tão desejada para nosso crescente desenvolvimento.
Abraços.
Não localizamos alguma possível declaração do velho Antonio Caixeiro sobre a morte de seu mais ilustre hóspede. O Sr. Zé Rosendo, disse que o Coronel foi ver as cabeças e como muitos outros não acreditou se tratar de Lampião.
Vale ressaltar que a força alagoana resolveu agir em solo sergipano sem comunicar qualquer manobra às autoridades.
Fatos posteriores
Então mãos a obra.
Após a renúncia em 1941, Eronides fixou residência no
Rio de Janeiro. Foi nomeado para Juiz do Tribunal de Segurança Nacional
e, em 1944, é nomeado Tabelião do 14º Ofício de Notas e Notas situado
até hoje no bairro de Copacabana, administrado por seus herdeiros.
O coronel Antônio Caixeiro tomou posse como primeiro prefeito de
Canhoba, exercendo o mandato até 1941. Nesse primeiro mandato, ele
inaugurou o mercado, a prefeitura, as Escolas Reunidas “Hermes Fontes”, (Hoje Escola Estadual Dr. Eronides de Carvalho) a
matriz paroquial de “Senhor Bom Jesus dos Pobres”, a Exatoria Estadual,
os açudes municipais, a agência dos Correios e Telégrafos.
Com a redemocratização do país, o coronel Antonio Ferreira de
Carvalho fora novamente eleito Prefeito Municipal, pelo voto direto e
universal, para o quatriênio 1947 a 1951. Porém, em 1948, faleceu
acometido de doença grave.
O seu mausoléu no Cemitério de Canhoba. Onde fora sepultada em 1946 a inesquecível D. Branca e também alguns dos seus filhos.
E a possível novidade?
Uma
imagem inédita na literatura. Foto artística de Antonio Caixeiro quando
prefeito. A original não existe, pois fora consumida por um incêndio na
década de 70. Acervo de Lauro Rocha.
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Dona Branca e seu filho Eronides Ferreira de Carvalho |
Acervo de Jaéliton Moura
Em 1960 Eronides construiu na Borda da Mata uma mansão a beira do
velho Chico. Depois passou a ser casa de veraneio de sua filha
Martha quando vinha a terra de seus avós.
Está abandonada a pelo menos quinze anos. Soubemos que agora pertence
à paróquia que pretende instalar um serviço de apoio aos assentados.
Arquitetura imponente serve de morada para vespas, cupins e morcegos.
As ruínas da mansão
Eronides morreu aos 73 anos em 18 de Março de 1969 no Rio de Janeiro onde está sepultado.
Eduardo
Ferreira de Carvalho o “Eduardinho” Foi o ultimo dos filhos de Antonio
Caixeiro a falecer em 19 de Novembro de 2010 aos 98 anos.
Do rico patrimônio dos Carvalhos só resta mesmo as
lembranças dos seus contemporâneos. Foi tudo vendido ou desapropriado ao
longo das décadas. A Borda da Mata é propriedade do MST. Outra extensão
da fazenda pertence a um pecuarista da cidade. O antigo casarão de seu
Antonio no centro deu lugar a uma agência banco do Estado de Sergipe.
Quanto a Jaramataia, aí é outra história.
Abraçando a todos e obrigado pela paciência.
*Kiko Monteiro é… um botador de gás, nada mais.
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FONTES CONSULTADAS
Bibliografia:
MACEDO, Nertan.
Lampião – Capitão Virgulino Ferreira
Editora: Renes Ano: 1975
CHANDLER, Billy Jaynes
Lampião – O Rei dos Cangaceiros.
1ª edição, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1980.
FERNANDES, Leandro Cardoso – ARAÚJO, Antonio Amaury Correia.
Lampião a medicina e o cangaço.
Traço Editora, São Paulo/2005
FONTES, Oleone Coelho.
Lampião na Bahia
3ª Edição. Editora Vozes, Petrópolis/RJ, 1999
BONFIM, Luiz Ruben F. de A.
Lampião e os interventores
Graf Tech, 2007.
DANTAS, Sérgio Augusto de Souza
Lampião – Entre a Espada e a Lei
Edição do autor, 2008.
SOBRINHO, Antônio Corrêa
O Fim de Virgulino Lampião
Edição do autor, 2008
BASSETI, José Sabino / MEGALE, Carlos César.
Lampião – Sua morte passada a limpo.
Editora Nova Consciência, São Paulo, 2011.
MELLO, Frederico P. de.
Estrelas de Couro – A estética do cangaço
Escrituras 2010
Textos, jornais e websites
Sertão Sangrento: Luta e Resistência. Jovenildo Pinheiro de Souza.
Antônio Ferreira de Carvalho por Lauro Rocha de Lima, Advogado aposentado, filho de Canhoba. Escritor filiado ao Movimento de Apoio Cultural da Academia Sergipana de Letras.
Centenário de Eronides de Carvalho. Excelente resumo da sua trajetória politica pesquisa do Prof.
Milton Barboza da Silva disponível no
Blog do autor
Lampião em Sergipe II. Luis Antônio Barreto in
Infonet
Jornais locais - Acervo digitalizado do Instituto histórico e geográfico de Sergipe.
Agradecimentos e créditos especiais
Pelo empenho, atenção e amizade dos nossos anfitriões a Família Ferreira,Dayana, Sr. Magno (nosso guia local), Sra. Erivania e Magno Filho.
Simão, secretário de Cultura de Canhoba.
Aritana (filha de dona Laudicéia)Ao pesquisador e confrade Dr Arquimedes Marques no afã de obtermos esta fotografia do célebre Antonio Caixeiro junto ao pesquisador Lauro Rocha e a sua esposa nossa amiga Dra. Elane Marques pela companhia em nossa segunda incursão.
E a messier Rostand Medeiros pelo olho clínico e revisão.
Aos Nossos Leitores do TOK de História
O
amigo Kiko, da cidade de Lagarto, em Sergipe, é uma das mais éticas e
competentes figuras que conheço no meio de pessoas que estudam o
fenômeno do cangaço. A anos mantém o blog “Lampião Aceso”, a mais
importante fonte de informações atualizadas sobre o assunto na internet e
onde publiquei meus primeiros artigos sobre. Kiko sempre me apoiou e
incentivou a seguir adiante. A tempos pedia a ele para publicar as suas
pesquisas feitas em busca dos rastro dos cangaceiros no sertão
sergipano e agora está chegando este material. Nunca duvidei da
capacidade deste cidadão e boas coisas virão no futuro.
EXTRAÍDO DO BLOG
Várias Informações, Toques, Sobre a História Potiguar, Segunda Guerra, Cangaço, Aviação e Muito Mais