quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Hathoga Divino


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Hathoga Divino, um jovem que escreve com a alma...

Por Anderson Barbosa

A internet é uma ferramenta fascinante, nos faz viajar pelo mundo em questão de segundos. Bastam apenas alguns minutos para fazer descobertas, construir laços, mergulhar na vida de pessoas que até então nem sabíamos da existência. Há quem diga ser um caminho perigoso... há quem jure ser uma trilha de sorte... mas o fato é que se bem usada pode construir pontes.

Foi numa dessas viagens, falando com um amigo padre Murilo Moraes, que conheci a história de um rapaz com um desejo imenso de mostrar ao mundo que ser jovem com deficiência é normal. Hathoga Custódio Divino é seu nome: sonhador e dono de uma inteligência em potencial, tudo isso num rapaz de 36 anos, o qual sonha com a faculdade de Psicologia.


Foto: Aquivo Pessoal



Quando nasceu, Hathoga teve uma paralisia cerebral deixando-o com algumas limitações físicas, nada que atrapalhasse a convivência com a família e amigos mais próximos. Ele só foi perceber a barreira que a deficiência lhe trouxe pelo olhar do outro, um olhar preconceituoso, carregado de ignorância. "Uma vez uma senhora chegou em minha casa e disse que não era pra falar sobre sexualidade porque eu poderia virar um maníaco sexual. Isso me doeu muito", lamenta.

Durante o nosso bate-papo pelo Facebook, a conversa foi completada com uma sequência de frases profundas, carregadas de um sentimento de alguém cansado de ser visto como peso: "O preconceito para mim é uma ditadura intelectual. Pra mim, se um pessoa com deficiência não fizer uma experiência pessoal com o Amor de Deus não suportaria tal preconceito".



Hathoga é àquele tipo de jovem que busca na fé explicações para a vida e na Igreja encontrou o conforto que o mundo nunca lhe ofereceu. Hoje, participa do movimento chamado "Comunidade Eclesial de Base", como ele mesmo diz: "está na luta contra todos os tipos de opressão".

O meu amigo padre tinha conversado sobre o fiel de sua igreja com uma capacidade imensa de se expressar pela literatura. Ele havia escrito 7 livros, todos a espera de uma editora interessada pelos manuscritos do jovem.

                             "O preconceito para mim


                             é uma ditadura intelectual.



Um desses romances é "Inclusão na Escola em Clima de JMJ" que narra a história de um jovem  que sonha em ver o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, ocorrida no ano passado no Rio de Janeiro. O desejo foi provocado por uma professora que aceita um jovem "deficiente" em sala de aula e por isso é perseguida pela ditadura do preconceito.

"É uma autobiografia?", perguntei. "É, eu que inventei a história, escrita de setembro para outubro de 2012 e já lancei para meus amigos em julho de 2013, mês da jornada. O lançamento foi no dia 6 daquele mês, dia de Santa Gorette, uma adolescente que conservou os valores cristãos",justificou Hathoga.



De entrevistado, ele passou a entrevistador: O que levou o senhor a trabalhar com a inclusão? desculpa a pergunta... Este é um questionamento que ao longo dos anos se repete. "Uma dificuldade pra fazer uma reportagem com jovens com deficiência auditiva para a revista Perfil (Itabaiana/SE). Não sabia como entrevistá-los, pois não domino a Língua Brasileira de Sinais. Daí estudei sobre o tema e fiz o jornal Inclusão (meu Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo), e vários blogs com o nome de Inclusão Sergipe e agora o Trilhos da Inclusão",respondi. Seguimos a conversa com uma frase dele: "Continue assim e Deus lhe protegerá".

Fiquei curioso para saber como foi que ele viveu a Jornada com os cerca de 4 mil jovens comandados pelo líder Francisco, mas logo fiquei sabendo que não viajou, acompanhou de casa, em Canhoba/SE, pela televisão: "Queria muito ter ido, mas não tive oportunidade. Tudo concorre para o bem daquele que ama a Deus. Seria muito difícil a locomoção. sou portador de uma deficiência e ando muito com minha mãe. Compreendo que era muita gente e tenho minhas limitações, tenho que está sempre acompanhado". E completou dizendo ainda continuar espalhando os ensinamentos do encontro.



Estava muito curioso com toda essa história e perguntei: "Se você tivesse a oportunidade de ficar pertinho do Papa Francisco, o que pediria a ele?". E não demorou para surgir na tela do computador o texto, mais um apelo que brotou do fundo do coração: "Que diga aos jovens com deficiência que nunca deixem de sonhar, que nunca desista dos seus sonhos. Seja ousado naquilo que aposta, persiga a estrela dos seus sonhos".
Hathoga não imaginava, mas naquele momento deixou um grande aprendizado para este jornalista...

Fotos: Arquivo Pessoal de Hathoga Custódio Divino

       
                                                    Fonte:             

Trilhos da Inclusão